Ministério Público do Trabalho abriu inquérito depois que filho de Bolsonaro e diretores subiram em palanque no pátio da empresa
O frigorífico Rivelli, de Minas Gerais, está sendo investigado por assédio eleitoral depois de permitir que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) subisse em um palanque montado no pátio da empresa na cidade de Barbacena e fizesse campanha contra Lula (PT).
Ele é filho de Jair Bolsonaro (PL), que concorre à reeleição.
Pelo menos um diretor da empresa também discursou no mesmo ato, afirmando que o presidente Bolsonaro está “conseguindo fazer a economia andar” e que isso seria benéfico para os empregados: o frigorífico cresceria e “mais oportunidades a gente vai ter”.
As cenas, no dia 18 de outubro, foram registradas pela CNN Portugal, que estava em Minas Gerais e relatou ter acompanhado a “busca” de Eduardo Bolsonaro por votos “junto aos mineiros” no estado, o segundo maior colégio eleitoral do país.
O próprio Eduardo Bolsonaro anuncia a presença da CNN Portugal no ato, pedindo que as pessoas tomassem cuidado com “eventuais gracinhas” já que “a minha avó também assiste televisão, e quando eu falo palavrão ela puxa a minha orelha”.
A reportagem, feita pelos jornalistas Pedro Bello Moraes e Nuno Quá, mostra então imagens de trabalhadores com roupas de segurança cortando frangos —a empresa abate 170 mil aves por dia.
Dentro da fábrica, diz o narrador, operários trabalham, “sem saber que uma ação política” se desenrola na empresa. “E que eles são os alvos”, segue o jornalista.
Em seguida, “os funcionários começam a se concentrar, sem saber ainda o que os espera. Já os patrões sabem bem o que querem”, afirma a reportagem.
Um diretor então surge no palanque armado na área, e discursa aos funcionários. “O que o Bolsonaro está conseguindo é fazer a economia andar”, afirma. “Quanto mais a economia andar, mais a empresa crescer, mais oportunidades a gente vai ter”.
Ele foi identificado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) como Paulo Richel, diretor administrativo-financeiro do frigorífico.
Em seguida, Eduardo Bolsonaro fala aos empregados da empresa. E, segundo a CNN Portugal, alerta para “os riscos do Lula” vencer as eleições no dia 30.
Eduardo fala mal da Argentina e insinua que, se Lula ganhar, a crise do país vizinho pode se instalar no Brasil.
“Eu acabei de voltar de uma viagem da Argentina. Eu não sei se vocês sabem a situação lá, mas 40% da população da Argentina já está na linha da pobreza. E o presidente da Argentina [Alberto Fernández] e o ex-presidente Lula têm políticas muito semelhantes. Por exemplo, em aumentar o imposto de exportação. É justamente isso que está levando à crise da carne, lá na Argentina”.
Em entrevista à CNN, o diretor do Rivelli afirma que a empresa fatura R$ 100 milhões por mês e que exporta frango para 140 países.
O Ministério Público do Trabalho fez uma audiência com diretores do frigorífico na terça (25) e afirma que uma segunda reunião está marcada para a quinta (27).
Os procuradores já recomendaram que a empresa divulgue um comunicado, “em até 24 horas”, em todos os grupos de Whatsapp da Rivelli, com o seguinte teor: “A Rivelli Alimentos S/a, em cumprimento à recomendação do Ministério Público do Trabalho, reitera o direito dos seus empregados de escolherem livremente seus candidatos nas eleições, independentemente do partido ou ideologia política; declara que não adota qualquer medida retaliatória, como a demissão em razão de opinião e escolha política partidária; e repudia qualquer tipo de comportamento que possa caracterizar violação à liberdade de consciência, de expressão e de orientação política.”
O texto deverá ser publicado em todos os quadros de avisos de todos os estabelecimentos “da ré” até o domingo, 30, dia da votação do segundo turno das eleições.
O comunicado tem que ser publicizado também na internet, nas redes sociais e em totens da empresa, além de distribuído para diretores, gerentes e supervisores.
A empresa não respondeu aos questionamentos da Folha.
Na audiência com os procuradores do trabalho, os advogados da empresa afirmaram que o frigorífico “apenas cedeu o espaço”, e disseram não saber “precisar quem pediu, nem como foi realizada a solicitação”.
Declararam ainda que “os trabalhadores foram liberados para participação [no evento com Eduardo Bolsonaro], mas não obrigados a permanecer no ato”.
No dia, aproximadamente 600 empregados davam turno no dia 18, e a empresa afirma que interrompeu suas atividades e os convidou para o evento. Cerca de 300 participaram do encontro, e quem não quis participar pôde ir para uma “área de descanso”.
O deputado Eduardo Bolsonaro foi procurado, mas ninguém em seu gabinete em Brasília atendeu o telefone.
Fonte: folha.uol.com.br